Um estudo realizado pelo Ibre/FGV mostra que a pandemia afetou mais os trabalhadores informais e de baixa escolaridade. A redução de emprego foi maior entre brasileiros que possuem poucos anos de estudo ou não chegaram a concluir o ensino médio. A pesquisa também aponta que esse grupo ainda deve ser o mais prejudicado no pós-pandemia.
“A queda foi muito maior nas categorias de menor escolaridade durante a pandemia. Quanto menor a qualificação e quanto mais baixos os salários, maior foi o abalo”, afirma o economista Fernando Veloso, que realizou o estudo, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE.
Do total de 7,3 milhões de postos de trabalho perdidos em 2020, 76% eram ocupados por brasileiros com até 10 anos de estudo, mostra o levantamento.
O número de ocupados com até 3 anos de estudo caiu 20,6% na média do ano, na comparação com 2019. No grupo com escolaridade entre 4 e 7 anos, a redução foi de 15,8% e, no grupo entre 8 e 10 anos de estudo a queda foi de 15,9%. Por outro lado, houve um aumento de 4,8% no emprego de pessoas com 15 anos ou mais de estudo (ensino superior incompleto). Veja no gráfico abaixo:
Informais são mais afetados
Embora a redução do emprego formal no primeiro ano de pandemia tenha sido expressiva (-4,2%), a queda no emprego informal foi três vezes maior (-12,6%) na média do ano em termos proporcionais. Na média nacional em 2020, o número de ocupados no país encolheu 7,9%.
Em termos absolutos, dos 7,3 milhões de posto de trabalho eliminados no país no ano passado, 5,1 milhões eram de trabalhadores informais, com destaque para os domésticos sem carteira (-18,8%), empregados sem carteira (-16,5%) e conta própria sem CNPJ (-10,3%).
O estudo do Ibre/FGV mostra que o impacto da pandemia foi maior entre os menos escolarizados também entre os formais. A redução do emprego foi de 15,5% para o grupo com até 3 anos de estudo, de 14,3% para os formais com escolaridade entre 4 e 7 anos e de 5,5% entre pessoas com 11 a 14 anos de estudo. Já entre os ocupados no mercado formal com 15 anos ou mais de estudo houve crescimento de 6% no emprego em 2020.
“Como são menos produtivos, os trabalhadores de menor escolaridade são em geral os primeiros a serem demitidos. As empresas tentam preservar o emprego de trabalhadores mais escolarizados porque é mais difícil depois a empresa eventualmente repor quando a economia retomar”, destaca o economista.
Emprego entre mais escolarizados cresce em 2020
Embora o número de ocupados com ensino superior completo tenha aumentado 4,8% no ano passado mesmo com a pandemia, o levantamento mostra que a criação de emprego desacelerou na comparação com 2019 (6%).
“O trabalhador com ensino superior completo foi menos atingido pela pandemia porque trabalha tipicamente em ocupações mais facilmente adaptáveis ao regime de trabalho remoto”, explica Veloso.
Entre as ocupações que tiveram maior facilidade de atuação via home office durante a pandemia estão as associadas a serviços financeiros, de tecnologia da informação, administrativos e atividades com maior nível de especialização.
Por outro lado, o setor de serviços prestados às famílias foi um dos mais prejudicados pela pandemia em razão do caráter mais presencial.
“Trabalhadores de escolaridade mais baixa tendem a estar mais concentrados em setores que envolvem mais contato pessoal como restaurantes, hotéis, hospedagem em geral e serviços de limpeza, e esses setores foram muito mais fortemente atingidos com a pandemia”, afirma Veloso.
Quanto maior a escolaridade, maior também os salários. Segundo o estudo, quem tem ensino superior completo ganha na média o equivalente a 4 vezes a renda de um trabalhador sem o ensino fundamental completo e cerca de 2,5 vezes a remuneração de quem só tem o ensino médio completo.
Pós-pandemia
Apesar da perspectiva de uma recuperação mais rápida do trabalho informal à medida em que ocorra um avanço da vacinação contra o coronavírus e sejam retiradas as medidas de restrição, a avaliação é que os trabalhadores com escolaridade mais baixa e com menor proteção social continuarão a ser também os mais prejudicados no pós-pandemia.
“Os trabalhadores de menor escolaridade são afetados duplamente. Primeiro porque eles têm dificuldade de fazer o trabalho remoto em razão do tipo de ocupação, que envolve mais contato pessoal no setor de serviços. Segundo, o fato de uma parcela maior da população ficar em casa significa que vai reduzir a demanda pelos serviços que são prestados por trabalhadores de menor escolaridade”, diz Veloso.
Ele cita um estudo da consultoria McKinsey, que aponta que nos países desenvolvidos deve aumentar significativamente o percentual de trabalhadores que ficarão até 5 dias por semana em trabalho remoto, passando de 5% para 25% do total da força de trabalho.
Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que 7,3 milhões estavam trabalhando remotamente em novembro de 2020, o que representava 9,1% do total de ocupados.
“É difícil quantificar quanto, mas uma parcela desse trabalho remoto que a gente está vendo agora vai continuar”, diz o economista. “Mais gente em home office significa, por exemplo, uma redução da demanda por restaurantes, serviço de limpeza, transportes, além de devolução de salas e escritórios”.
Fonte: Com informações do G1