Seis milhões de pessoas estão sem trabalho há mais de um ano

Seis milhões de pessoas estão sem trabalho há mais de um ano

Uma pesquisa realizada pela IDados, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que seis milhões de desempregados no país estão sem trabalho há mais de um ano. Desses, são 3,8 milhões buscando vaga por mais de dois anos. 

O chamado “desemprego de longa duração”, avançou ainda mais durante o período de pandemia. A proporção dos que procuram ocupação há mais de dois anos subiu de 23,9% no primeiro trimestre de 2020 para 26,1% no segundo trimestre de 2021. 

O aumento foi ainda maior no grupo que está desempregado por um período entre um e dois anos: passou de 6,7% para 15,1%, considerando a mesma base de comparação.

Juntos, os dois grupos reúnem 41,2% dos 14,4 milhões de desempregados brasileiros do segundo trimestre de 2021. No início de 2020, eram 30,6% do total dos trabalhadores sem ocupação no país. 

Mercado de trabalho

“O que se vê é um aumento da parcela dos que estão desempregados há muito tempo. E quanto mais tempo no desemprego, é mais tempo sem renda e mais prejuízos para a família. Além disso, fica cada vez mais difícil voltar ao mercado”, afirma o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador do IDados, Bruno Ottoni.

Quanto mais tempo fora do mercado de trabalho, maior é o risco de perda de habilidades e desatualização dos profissionais, o que acaba gerando uma desigualdade entre os que buscam trabalho, de acordo com os prazos do desemprego, segundo Ottoni. 

“Em um momento de reação da economia, os empregadores tendem a dar preferência a quem está há menos tempo fora do mercado. Os desempregados de longa duração são os últimos da fila a serem empregados quando a economia reage”, diz ele.

Desemprego

Ao mesmo tempo em que reflete a piora do mercado de trabalho, o desemprego de longo prazo também prejudica o crescimento de longo prazo, aponta o economista da Tendências Consultoria Lucas Assis.

“A perda de capital humano causada por trabalhadores que ficam desempregados por muito tempo pode reduzir o potencial de crescimento da economia no médio e longo prazo. Esses trabalhadores desaprendem tarefas, desatualizam-se em relação a novas práticas e têm dificuldade em ser tão produtivos quanto antes”, afirma ele, citando os efeitos desse desemprego de longo prazo entre os jovens, que tradicionalmente já têm mais dificuldades de se inserir no mercado por causa da falta de experiência.

O pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) e professor do Instituto de Economia da Unicamp, Denis Maracci Gimenez cita também a ampliação das chamadas  descontinuidades ocupacionais – quando o trabalhador muda de atividade – e também um efeito de desorganização da força de trabalho.

“É o fenômeno da ‘viração’, o sujeito se vira porque precisa de renda. Faz trabalho de pintor de manhã e de segurança à noite, por exemplo. Historicamente, há no país uma estratégia de sobrevivência, que se exacerba com o avanço dessa parcela de desempregados há mais tempo”, aponta.

Mais do que um fenômeno provocado pela pandemia, o desemprego de longa duração foi intensificado por ela, afirmam economistas. A crise atual atingiu o mercado de trabalho antes que tivesse se recuperado da anterior, de 2015/2016. 

Mesmo com a volta do crescimento econômico, o ritmo foi insuficiente para melhora consistente e o mercado se manteve com taxa de desemprego elevada e parcela grande de informais entre os ocupados.

“O desemprego de longo prazo sempre tem a ver com o prolongamento de crises econômicas, e não com questões conjunturais de curto prazo. A partir de 2017, o mercado voltou a gerar vagas, mas insuficientes para reduzir de maneira significativa a taxa de desemprego e com um padrão de emprego de baixa performance, muito precário”, explica Gimenez.

Com informações do Valor Econômico

Fonte: https://www.contabeis.com.br

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