Em 7 de abril de 2025, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou o 3º Relatório de Transparência Salarial e Igualdade, com base nos dados da RAIS de 2024. O documento revela que as mulheres recebem, em média, 20,9% a menos que os homens em empresas privadas com 100 ou mais empregados no Brasil.
Panorama atual da desigualdade salarial
O relatório analisou informações de 19 milhões de vínculos empregatícios em 53.014 empresas de grande porte. A média salarial dos homens é de R$ 4.745,53, enquanto a das mulheres é de R$ 3.755,01. A diferença representa uma perda de R$ 95 bilhões na economia brasileira em 2024, caso houvesse igualdade salarial.
Mulheres negras estão entre as mais afetadas. Elas recebem, em média, R$ 2.864,39. Homens negros ganham R$ 3.647,97, enquanto homens não negros têm média salarial de R$ 6.033,15. Isso representa uma diferença de aproximadamente 110% entre homens não negros e mulheres negras, mesmo em funções equivalentes.
Diferenças por cargo e escolaridade
- Direção e gerência: mulheres recebem 73,2% do salário dos homens.
- Ocupações de nível superior: 68,5% da remuneração masculina.
- Serviços administrativos: 79,8% dos salários dos homens.
Mesmo com qualificação equivalente, as mulheres seguem recebendo menos que os homens em todas as categorias analisadas.
Aumento na participação feminina no mercado de trabalho
Apesar da desigualdade salarial, o número de mulheres no mercado formal aumentou. Em 2015, eram 38,8 milhões de trabalhadoras; em 2024, esse número chegou a 44,8 milhões. A participação feminina representa agora 40,6% do total de pessoas ocupadas no país.
Entretanto, a massa salarial das mulheres representa apenas 34,8% do total pago, o que demonstra que o aumento na ocupação não refletiu em igualdade de ganhos.
O número de estabelecimentos com até 10% de mulheres negras caiu de 21.680 em 2023 para 20.452 em 2024. Já a presença dessas trabalhadoras subiu de 3,2 milhões para 3,8 milhões no mesmo período.
Critérios que influenciam a desigualdade salarial
Segundo o relatório, 56,1% das empresas possuem planos de cargos e salários. Outros fatores que impactam a remuneração incluem:
- Flexibilização de jornada (42,5%)
- Auxílio creche (22%)
- Licença maternidade/paternidade estendida (21,2%)
- Apoio à parentalidade de mulheres (30,7%)
- Tempo de experiência (76,8%)
- Metas de produção (64,7%)
Medidas governamentais para combater a desigualdade
Para enfrentar o problema, o governo federal lançou o Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral, com vigência até 2027. O plano prevê ações integradas para garantir equidade salarial e combater a discriminação de gênero no trabalho.
Além disso, foi criado um Comitê Gestor Interministerial para monitorar a implementação das medidas.
Obrigação legal das empresas
A Lei nº 14.611/2023 obriga empresas com mais de 100 empregados a adotarem políticas de transparência salarial, canais de denúncia, programas de diversidade e apoio à capacitação feminina. O descumprimento pode resultar em penalidades administrativas.
Estudos internacionais reforçam a importância da equidade
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil poderia incrementar R$ 382 bilhões à sua economia com a adoção plena de políticas de igualdade de gênero. Já o Banco Mundial projeta que o PIB global cresceria mais de 20% se homens e mulheres tivessem as mesmas oportunidades profissionais.
O relatório evidencia que a equidade de gênero no mercado de trabalho permanece como um desafio relevante. Ações efetivas de empresas e governos são urgentes para reverter esse cenário. Para contadores e profissionais da área de gestão de pessoas, o cumprimento das obrigações legais é fundamental para garantir conformidade e promover ambientes mais justos e produtivos.