Pessoas não-binárias na contabilidade brasileira

Pessoas não-binárias na contabilidade brasileira

Não-binariedade se refere a identidade de gênero de pessoas transgêneras (trans) que não se identificam dentro do binarismo de gênero (masculino e feminino). As identidades de gênero binárias são alocadas em duas categorias, homem e mulher, feminino e masculino, menina e menino. Já pessoas não-binárias não se reconhecem em totalidade com ambas as categorias de gênero culturalmente construídas.

No Brasil, segundo a pesquisa publicada em 2021 de Spizzirri, Eufrásio e Lima, aproximadamente 1,19% da população identifica-se como não-binária, correspondendo a cerca de 2,4 milhões de indivíduos. A nível global, estima-se que 2% da população identifique-se como não-binária, o que representa cerca de 160 milhões de pessoas

Embora o termo ‘não-binariedade’ tenha recebido maior atenção da mídia, de políticos e em debates públicos nas últimas décadas, de acordo com a pesquisadora em estudos de gênero nas organizações Akira Aikyo Galvão que atua no Núcleo de Pesquisa e Extensão em Gênero, Raça e Sexualidade (Generas) da Universidade de São Paulo (USP), “as experiências de indivíduos que não se enquadram no binário de gênero datam de séculos, nas Américas, no período que antecede a colonização, os povos originários já reconheciam categorias adicionais de gênero, como exemplo, as pessoas indígenas denominadas two-spirit, cuja a identidade de gênero não se alinhava ao binário masculino e feminino.”

Para a pesquisadora, “o modelo binário de gênero ocidental atual, que distingue as identidades em masculinas e femininas, decorre da herança da colonização europeia. Desde a colonização, esse padrão binário tem influenciado e continua a influenciar a construção de conhecimento e das normas nas Ciências Sociais, médicas e organizacionais a partir do modelo da diferença sexual – macho e fêmea”. 

Os ambientes contábeis no Brasil ainda seguem uma lógica biologizante de gênero, assumindo como natural identidades que são culturalmente fabricadas, reproduzidas e exigidas. Além disso, a área que é masculinizante, reforça o masculino genérico nos textos das publicações sobre o “Dia “do” Profissional Contábil”, “Dia “do” contador”, sempre fazendo menção única e exclusivamente aos pronomes masculinos e aos homens, cisgêneros. No site do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), por exemplo, ainda as possibilidades de gênero para quem se habilita como profissional da área contábil estão limitadas às categorias binárias: masculino e feminino. Assim questiono: Por que os órgãos da classe contábil são seletivos e se limitam apenas às pessoas, cisgêneros e binárias? Por que não incluem as pessoas trans, binárias, não-binárias e travestis?

Por fim, a reflexão que deixo, é que a não-binaridade de gênero não é uma oposição ao binário de gênero, mas sim, uma extensão do que entendemos como gênero, as identidades de gênero estão para além dos modelos limitados e ultrapassados. É preciso construir uma contabilidade em que profissionais possam ser respeitadas independente da sua identidade de gênero, seja mulher trans, travesti, homem trans, transmasculinades, não-binária ou cisgênero, é sobre ser quem é, sem ter medo de viver a sua essência na profissão que escolheu seguir e atuar. 

Fonte: https://www.contabeis.com.br

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