Perda versus desperdício

Perda versus desperdício

Certo dia, convidei uma empresa de prestação de serviços de manutenção e reparos para pintar uma sala de 30 metros quadrados. Por gostar de pesquisar preços, solicitei um orçamento prévio. Ao receber a proposta de preço do serviço demandado, convidei um preposto daquela empresa para obter alguns esclarecimentos sobre a necessidade do material a ser utilizado na pintura da sala.

De início, ele tentou justificar o consumo de mais tinta para que o trabalho ficasse muito bom. Explicou-me também que era normal a perda de material durante a execução dos referidos trabalhos e que aquele procedimento de solicitar uma quantidade a mais era padrão da empresa dele. 

Não tive a intenção de explicar conceitos técnicos e contábeis ao cidadão que estava ali para fazer seu trabalho, mas não seria justo deixar de apresentar-lhe algumas considerações.

Afinal, fui professor da disciplina Análise de Custos, do curso de graduação em Ciências Contábeis, por vários anos. Um dos pontos mais interessantes do conteúdo programático dessa disciplina diz respeito exatamente à redução racional de gastos, com ênfase na administração das perdas dos materiais aplicados à produção. 

 De início expliquei a ele que perda faz parte do processo natural de qualquer atividade, desde que essa perda seja razoável e devidamente justificável. O que ele estava me apresentando naquela oportunidade como perda, representava 25% (vinte e cinco por cento) do valor do orçamento, ou seja, o valor do serviço seria aumentado em mais R$ 750,00, uma vez que o gasto normal estimado seria de R$ 3.000,00 e o orçamento apresentado pela empresa dele foi de R$ 3.750,00. 

Após alguns minutos de diálogo compreendi que o preposto da empresa de prestação de serviços estava levando em consideração algo que não faz parte de um plano normal de trabalho. Ele justificou que o pessoal derrama muita tinta, durante o movimento de deslocamento de um lado para o outro, e que isso deveria ser previsto no orçamento da execução dos trabalhos.  

A partir daquele argumento percebi que o preposto da empresa não tinha conhecimento suficiente a respeito da diferença entre perda e desperdício. Então, tentei explicar-lhe que a perda é normal durante uma pintura de sala ou de qualquer outro ambiente, mas o desperdício não é aceitável. Derramar parte do conteúdo da tinta, mesmo que de maneira involuntária, é um desperdício e não uma perda natural.  

Não fiz o trabalho com aquela empresa. Preferi contratar um profissional autônomo e controlar, eu mesmo, o material a ser utilizado na pintura. O preço acertado foi R$ 2.750,00. O serviço saiu ótimo e economizei R$ 1.000,00 em relação ao orçamento proposto pela empresa que apresentou um orçamento de R$ 3.750,00. 

Se contratasse aquela empresa, eu estaria pagando mais caro pelo desperdício da tinta e não pela perda normal, que seria bem inferior. A perda natural seria alguns pingos de tinta que poderiam cair durante a pintura, mas nunca o derramamento do produto por mau uso durante o deslocamento, ou por falta de cuidados dos executores daquele serviço. 

Fica o exemplo para quem pretender fazer orçamentos criteriosos. 

Na atividade produtiva ou então na atividade de prestação de serviços, a perda faz parte do custo de produção (indústria) ou do gasto com a execução dos trabalhos (prestação de serviços).

O que não é correto, e não é justo, é atribuir valor ao desperdício e cobrar dos clientes esse valor. Isso reflete, negativamente, tanto do ponto de vista da competitividade quanto do ponto de vista da qualidade dos serviços prestados.

E é a partir daí que se forma o conceito de qualidade de uma empresa. Creio que um contador poderia orientar o proprietário dessa empresa, no sentido de ele não cometer erros dessa natureza.

Fonte: https://www.contabeis.com.br

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