Em março, pelo Dia Internacional da Mulher (dia 8), pautas sobre equidade de gênero ganham atenção especial. Entre elas, a luta por autonomia, que passa por um ponto decisivo: a independência financeira. Como conquistá-la em um cenário ainda adverso para as pessoas do sexo feminino? A saída está na educação e no planejamento financeiro.
De acordo com o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher, elaborado pelo Ministério das Mulheres, enquanto o rendimento-hora médio habitual dos homens no Brasil é de R$ 18, entre as mulheres só chega a R$ 16. No caso de mulheres pretas ou pardas, o valor ainda é menor: R$ 12.
Ainda segundo o levantamento, a participação das mulheres na força de trabalho nacional segue inferior à dos homens. Enquanto 72% deles estão na ativa, entre elas o percentual é de 53%. Entre mulheres pretas e pardas, a fatia é ligeiramente menor: 51%.
O número de mulheres que chefiam lares sem cônjuge é quase nove vezes maior que o de homens na mesma situação: 4,3 milhões delas, ante 500 mil deles. Mais grave ainda: 60% delas em lares com renda per capita de meio salário mínimo.
Não à toa, indicadores sobre endividamento mostram que este é um problema que acomete, sobretudo, as mulheres. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), por exemplo, aponta que praticamente oito em cada dez mulheres têm alguma dívida contraída.
“Diante desse diagnóstico, não há como falar em independência das mulheres sem que elas tenham independência financeira. E não existe independência feminina sem planejamento financeiro”, afirma a planejadora financeira Júlia Lázaro, que promove ações de educação nessa área para mulheres.
Com formação em Administração de Empresas na Universidade Estadual do Estado de São Paulo (Unesp), especialização em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA Internacional pela Universidade de Ohio/FGV, Júlia acumulou experiência como profissional em uma empresa multinacional, para depois se tornar empreendedora – é fundadora e CEO da Mitfokus, fintech de contabilidade para a área médica.
Planejar-se financeiramente, explica a especialista, envolve estabelecer metas e, para alcançá-las, definir estratégias. Cumprir esse planejamento requer, porém, considerável dose de disciplina – pois, do contrário, as boas intenções tendem a não ser colocadas em prática.
A construção desse planejamento inclui mensurar despesas e receitas, para se ter um diagnóstico da real situação financeira em questão. A partir desse raio-x, identificar, entre os gastos, o que é realmente relevante, indispensável, e o que pode (e deve) ser cortado. Entre as despesas, verificar aquelas fixas, de fonte principal, e as que são extras, esporádicas, de fontes secundárias.
Para além do montante destinado a gastos, é fundamental criar uma reserva para destinar a investimentos financeiros – da tradicional caderneta de poupança até outras formas de aplicação do dinheiro. O retorno de tais investimentos garante segurança financeira para eventuais emergências e estabilidade futura.
Mas, no dia a dia, providências rotineiras, que podem parecer básicas, têm potencial de se tornarem fundamentais também. Júlia cita algumas dicas. Por exemplo, antes de ir às compras, elaborar uma lista do que precisa. Esse roteiro assegura gastar com o que realmente importa, evitando despesas supérfluas. Isso vale não só para compras de supermercado, de itens básicos, mas quando da ida ao comércio para adquirir presentes, por exemplo. Optar por estabelecimentos de atacado é uma boa estratégia também.
Outra dica é utilizar o comércio eletrônico somente para o necessário. “É importante estar vigilante quanto a isso”, frisa a especialista, alertando para o risco de, estando na internet, render-se a todo tipo de anúncio e promoção de produtos sendo comercializados. Fazer uma cotação antes em sites de busca coletiva é outra recomendação, pois ajuda a encontrar o item desejado pela melhor relação custo x benefício.
Mais uma dica da planejadora: nada de ter uma carteira repleta de cartões de crédito. “Ter somente um, no máximo dois, é o suficiente”, pontua Júlia. Farta opção de cartões de crédito é um convite a gastos. “Muito cuidado também no uso de aplicativos de delivery, evitando comprar por impulso”, orienta.
Há, por outro lado, aplicativos sugeridos: aqueles de controle financeiro. Podem funcionar de maneira mais eficaz do que o controle na ponta do lápis. Participar de grupos de desapego e dividir o extrato bancário dos últimos três meses com cônjuge ou amiga é outra forma de facilitar o acompanhamento – e, principalmente, o freio – nos gastos.
Alterar o cenário nacional, desigual, ainda é tarefa árdua e longa. No entanto, a contabilidade já é uma ferramenta fundamental e uma das protagonistas na promoção da igualdade financeira para as mulheres, minimizando disparidades e empoderando as mulheres em diversas esferas. “Conhecimento, habilidade e recursos acrescentam muito às mulheres e também contribuem para a construção de uma sociedade mais justa. A Mitfokus também entende essa demanda social e atua no combate à desigualdade e ao fomento de um futuro muito mais igualitário”, sublinha Júlia.
Fonte: Engenharia de Comunicação