Em um mundo de negócios cada vez mais globalizado, a transparência financeira é essencial para análise pelos investidores e partes interessadas. A adoção dos princípios contábeis internacionais trouxe para o universo contábil uma série de normas e procedimentos que visam assegurar a confiabilidade das informações financeiras divulgadas pelas empresas.
Neste contexto as empresas em geral no final do exercício antes da elaboração das demonstrações contábeis ou quando existir evidência relevante deve providenciar o teste de recuperabilidade nas regras constantes deste pronunciamento e aplicá-la na contabilização de ajustes para perdas por desvalorização de todos os ativos, exceto os ativos que tem pronunciamentos técnicos específicos:
- Estoques – CPC 16 (R1)
- Ativos de contratos e resultantes de custos para obter ou cumprir contratos – Receita de contrato com clientes – CPC 47
- Ativos fiscais diferidos – Tributos sobre o lucro – CPC 32
- Ativos advindos de planos de benefícios a empregados – Benefícios a empregados – CPC 33
- Ativos financeiros – Instrumentos financeiros – CPC 48
- Propriedades para investimentos mensurada ao valor justo – Propriedade para investimento – CPC 28
- Ativos biológicos mensurados ao valor justo líquido de despesas de vendas – Ativo biológico e produto agrícola -CPC 29
- Ativos intangíveis e custos de aquisição advindos de direitos contratuais de companhia de seguros – CPC 11
- Ativos não circulantes e grupos de ativos disponíveis para a venda – Ativo não circulante mantido para a venda e operação descontinuada – CPC 31
A elaboração de laudo para a aplicação do CPC 01 depende das circunstâncias e da política interna da empresa. Em geral, o laudo não é obrigatório quando as evidências são claras e subsidiada por documentação idônea que suporte as avaliações realizadas e os critérios utilizados para determinar o valor recuperável dos ativos.
Em situações complexas que sugere dúvidas sobre a recuperabilidade de ativos significativos e nos riscos envolvidos, recomendável obter um laudo externo com um perito contábil ou consultoria especializada para ter analises detalhadas e objetivas e relevantes.
Para aplicar com precisão as avaliações e o reconhecimento contábil pertinentes, é fundamental conhecer as definições dos termos técnicos da norma.
Alguns desses termos incluem:
- Valor recuperável de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa: é o maior valor entre o valor justo líquido de despesas de venda de um ativo e o seu valor em uso;
- Unidade geradora de caixa: menor grupo identificável de ativos que gera entradas de caixa;
- Valor em uso: valor presente de fluxos de caixa futuros
- Valor contábil: valor líquido de depreciação, amortização ou exaustão acumulada;
- Despesas de venda ou baixa: são despesas incrementais atribuíveis à venda ou a baixa excluída as despesas financeiras e os impostos sobre o resultado gerado;
- Perda por desvalorização: é o valor excedente do valor recuperável;
- Depreciação, amortização e exaustão: alocar o valor depreciável, amortizável e exaurível de ativos durante a sua vida útil;
- Valor depreciável, amortizável e exaurível: é o custo de um ativo menos o seu valor residual;
- Valor residual: estimativa do valor de vendas deduzidos as despesas de vendas, caso o ativo já tem a idade e condição esperada para o fim da vida útil;
- Vida útil: período de tempo durante o qual a entidade espera utilizar um ativo ou o número de unidades de produção ou de unidades semelhantes que a entidade espera obter um ativo;
- Ativos corporativos: ativos, exceto ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), que contribuem, mesmo que indiretamente, para os fluxos de caixa futuros.
Como parâmetros para indicar a ocorrência da desvalorização de um ativo utiliza-se informações de fontes externas e internas.
Fontes externas:
- Verificar se há indicações observáveis de que o valor do ativo diminuiu significamente durante o período.
- Mudanças com efeito adverso sobre a empresa durante o período ou em futuro próximo no ambiente tecnológico, econômico ou legal.
- Reflexo das taxas de juros de mercado de retorno sobre investimentos no valor em uso e na recuperabilidade de um ativo.
- Valor contábil do patrimônio líquido superior ao valor de suas ações no mercado.
Fontes internas:
- Evidências de obsolescência ou de dano físico do ativo.
- Mudanças com efeito adverso durante o período ou em futuro próximo relacionados a ativo inativo ou ocioso, planos para descontinuidade ou reestruturação da operação à qual o ativo pertence e da baixa de ativos antes da data prevista de vida útil.
- Relatório interno que indica que o desempenho econômico de um ativo é ou será pior que o esperado.
A perda por desvalorização ocorre quando o valor contábil de um ativo é superior ao seu valor recuperável. Essa perda deve ser reconhecida no resultado do período. Já a depreciação, amortização e exaustão são formas de apropriação do valor dos ativos ao longo do tempo, considerando, respectivamente, o desgaste físico, a perda de benefícios econômicos futuros e a exaustão dos recursos.
Portanto, a norma CPC 01 traz diretrizes claras e precisas para a redução ao valor recuperável de ativos, garantindo a transparência e confiabilidade das informações contábeis. A correta aplicação dessa norma é fundamental para que as empresas apresentem uma visão fiel de seus ativos e possam tomar decisões estratégicas sólidas e embasadas.
Além disso, a norma aborda a reversão da perda por desvalorização, que deve ocorrer caso haja evidência objetiva de que o montante da perda não é mais apropriado. Nesse caso, a reversão deve ser registrada no resultado do período.
Para aplicar os procedimentos do CPC 01 na prática, as empresas devem seguir uma série de etapas, incluindo:
- Identificar os ativos que precisam ser avaliados
- Determinar o valor recuperável
- Comparar o valor contábil com o valor recuperável
- Reconhecer a perda por desvalorização
- Reverter a perda por desvalorização se houver evidência de que a perda por desvalorização não existe mais ou diminuiu.
A divulgação das informações é um aspecto essencial do CPC 01. As empresas devem apresentar em suas demonstrações contábeis as políticas contábeis adotadas, os critérios utilizados para determinar o valor recuperável dos ativos, as perdas e por desvalorização reconhecidas e as reversões da perda por desvalorização.
Importante constar que quando a empresa não aplica o teste da recuperabilidade dos ativos elencados no CPC 01 pode resultar em consequências:
- Relatório de auditoria independente com ressalva impactando negativamente junto as investidores e partes interessadas nas demonstrações financeiras.
- Legais e regulatórias, caso as informações financeiras sejam consideradas enganosas ou fraudulentas.
- Possibilidade de rebaixamento na classificação de créditos, o que afetar a capacidade da empresa de acessar financiamento a taxas favoráveis.
- Prejuízo à reputação da empresa, o que pode afetar sua relação com clientes, fornecedores e investidores.
- Impacto nas decisões de gestão, uma vez que informações financeiras imprecisas ou não confiáveis podem levar a decisões inadequadas.
Ilustração prática
Uma empresa fictícia “Empresa XYZ” possui um conjunto de ativos sujeitos a depreciação no seu balanço.
Aquisição de um equipamento de produção: R$ 100.000,00, estimativa de vida útil de 5 anos e um valor residual de R$ 10.000,00.
A cada ano, a Empresa XYZ deve realizar uma avaliação do valor recuperável desse equipamento. Vamos supor que, após 3 anos de uso, a empresa considere que houve uma mudança no mercado que reduziu o valor do equipamento.
Após realizar a avaliação, a empresa determina que o valor recuperável do equipamento é R$ 60.000,00, ou seja R$ 40.000,00 a menos do que seu valor contábil original de R$ 100.000,00.
De acordo com o CPC 01, a Empresa XYZ deve reconhecer uma perda por desvalorização do equipamento de produção de R$ 40.000,00 após a avaliação.
Em síntese, a redução ao valor recuperável de ativos traz diretrizes claras e precisas garantindo a transparência e a confiabilidade das informações contábeis. A correta aplicação dessa norma é fundamental para que as empresas apresentem uma visão fiel de seus ativos e possam tomar decisões estratégicas sólidas e embasadas.
Por: Kenia Maria da Silva, especialista em neurociência e psicologia positiva no desenvolvimento humano, auditoria digital, direito tributário e gestão para cooperativas, com graduação em ciências contábeis.