O número de trabalhadores do setor privado sem carteira assinada atingiu 14,2 milhões no quarto trimestre de 2024, o equivalente a 26,6% dos 53,4 milhões de empregados. O dado é o mais alto desde o início da série histórica da PNAD Contínua do IBGE, iniciada em 2012.
Proporção de informais no setor privado segue em alta
O percentual de empregados informais vem crescendo de forma constante ao longo da última década. Em 2013, o índice era de 22,8%, aumentando gradualmente até o patamar atual. A pesquisa considera como trabalhador informal aquele que presta serviço a um empregador privado, recebe remuneração, mas não possui vínculo formalizado em carteira.
Diferença salarial entre formais e informais diminui
De acordo com o IBGE, o rendimento médio no trabalho principal foi de R$ 3.065 para empregados com carteira e R$ 2.334 para os informais no último trimestre de 2024. Apesar da diferença, ela vem diminuindo com o tempo: em 2013, o gap era de R$ 1.134, contra R$ 731 no final de 2024, o que indica uma valorização relativa do trabalho informal.
Economia aquecida impulsiona informalidade
O crescimento econômico de 3,4% no PIB em 2024, acima das previsões iniciais, contribuiu para o aumento do número total de empregos, inclusive informais. Programas sociais que movimentaram quase R$ 400 bilhões impulsionaram a atividade econômica, mesmo com os desafios fiscais.
O economista Renan Pieri, da FGV, aponta que “o trabalhador informal tem sido contratado porque as empresas crescem, mas não sabem por quanto tempo o cenário favorável vai permanecer. Assim, o empregador escolhe profissionais sem carteira para evitar os encargos trabalhistas em caso de demissão.”
Expectativa de desaceleração econômica em 2025
Com o aumento das taxas de juros pelo Banco Central a partir do segundo semestre de 2024, há previsão de esfriamento da economia em 2025. Caso essa desaceleração se confirme, os trabalhadores informais podem ser os mais afetados, dada a vulnerabilidade dessas ocupações frente às oscilações do mercado.
Cresce o número de trabalhadores por conta própria
O número de trabalhadores por conta própria também aumentou. Segundo o IBGE, 26 milhões de brasileiros estavam nessa condição ao final de 2024 — um aumento de 1,6% em relação ao ano anterior. Esses profissionais, que trabalham em empreendimentos próprios sem empregados, compõem parcela importante da informalidade.
Freelancers e temporários em alta
Além da informalidade tradicional, o modelo de trabalho por demanda — como freelancers e temporários — tem ganhado espaço. “O trabalho informal acaba tendo essa flexibilidade maior e sendo uma opção para as empresas por algum tempo”, afirma Pieri. Esse movimento reforça a tendência de desformalização nas relações trabalhistas.
Implicações para o setor contábil
O cenário de informalidade recorde exige atenção redobrada por parte de profissionais contábeis. Além dos impactos na arrecadação de encargos e tributos, empresas que operam com alta taxa de informalidade estão mais expostas a riscos jurídicos e trabalhistas. O papel do contador é fundamental para orientar empreendedores sobre os benefícios da formalização e alternativas legais de contratação.