A geração de postos de trabalho formal mostrou, no mês setembro, continuidade da trajetória de recuperação, mas confirma que está em curso um processo de esfriamento das condições de emprego, em linha com o quadro de desaceleração da atividade econômica do terceiro trimestre deste ano, aponta o economista César Garritan.
Já na visão do economista Lucas Pinto, o mês de setembro manteve o mercado de trabalho ainda forte na criação de empregos formais e deve seguir até o fim do ano com saldos positivos na criação de vagas, embora com gradual desaceleração.
O Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado nesta quarta-feira (26), pelo Ministério do Trabalho e Previdência, mostrou saldo líquido positivo de 278,1 mil vagas de empregos formais em setembro, ante 285.314 vagas no mês anterior.
Em boletim divulgado nesta quarta-feira (26), Garritano ressalta que, efetuando-se ajuste sazonal, a criação de novas vagas com carteira assinada desacelerou de 226,1 mil em agosto para 157,6 mil em setembro.
Enquanto o total de demitidos (-0,2%) trouxe leve taxa de variação negativa, com queda de 0,2% na comparação mensal, o total de admitidos apresentou recuo comparativamente mais intenso, de 2%, sob o mesmo critério.
Ainda com base nos dados do Caged,o total de postos criados em setembro ficou abaixo tanto da média de 2022 (saldo positivo de 206,0 mil vagas) quanto da média do quadrimestre encerrado em agosto (saldo positivo de 240,2 mil).
Na abertura setorial, o economista destaca a perda de ritmo maior para a Indústria (de 16,6 mil para 13,8 mil), configurando-se na quarta desaceleração consecutiva do total líquido de postos gerados em bases mensais. Já o saldo do setor de comércio (de 25,6 mil para 36,0 mil) mostrou alguma melhora, após três leituras seguidas de desaceleração.
Para o último trimestre de 2022, a corretora mantém a hipótese de continuidade de esfriamento no ritmo de geração líquida de empregos.
“Essa avaliação recebe o respaldo da aposta de enfraquecimento adicional da atividade no quarto trimestre deste ano, quadro negativo que foi notado em alguns setores econômicos no terceiro trimestre, destacadamente no comércio varejista, mas que tende a se tornar muito mais disseminado nos últimos três meses do ano.”
A diluição dos impactos favoráveis das novas medidas fiscais adotadas pelo governo, a influência dos efeitos defasados da política monetária, o esgotamento dos efeitos da reabertura econômica e as incertezas eleitorais e em torno de quais serão os planos econômicos do novo governo são as principais forças negativas que deverão atuar no mercado de trabalho no quarto trimestre de 2022, aponta o boletim.
Na avaliação de Lucas Pinto, apesar do saldo menor em setembro, mesmo a série com ajuste sazonal indica um mercado de trabalho ainda forte, com nivelamento de admissões e demissões, o que mostra que ainda não há efeito pleno da política monetária mais apertada.
Ele destaca a pequena queda em termos reais do salário médio de admissão com carteira assinada em setembro, após recuperação no mês anterior. Embora ainda pontual, o dado pode indicar um menor “desespero” das empresas nas contratações, embora a demanda por mão de obra ainda siga elevada.
Segundo o Caged, o salário médio de admissão de novos empregados com carteira assinada ficou em R$ 1.931,13 em setembro, com queda real de 0,64% em relação a agosto.
Para Lucas, a política monetária deve ter efeitos mais claros no mercado de trabalho somente a partir do ano que vem, mas ele ainda vislumbra um início de 2023 com redução gradual no saldo líquido de vagas formais, como reflexo também da desaceleração esperada para e economia.
A projeção de PIB da gestora é de alta de 2,8% para 2022 e de 0,5% para o ano que vem. Dentro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) elaborada pelo IBGE, que inclui tanto emprego formal quanto informal, o economista espera um crescimento em 2022 de 8% da população total ocupada em relação ao ano passado.
O economista Gabriel Couto apresenta análise em linha com a análise de Garritano. Para ele, o mercado de trabalho formal seguiu forte em setembro, embora com resultado na margem que indica desaceleração compatível com o comportamento dos principais indicadores de atividade econômica no terceiro trimestre de 2022.
Em boletim divulgado pelo banco, o economista também destaca a esperada desaceleração na criação de empregos à frente, especialmente considerando os efeitos persistentes de uma política monetária mais restritiva.
Com ajuste sazonal do banco, a geração líquida de empregos formais desacelerou para 167 mil, de 192 mil em agosto. O número de contratações teve queda de 2,4% também na margem, com ajuste, destaca Couto, enquanto as demissões tiveram queda de 1,2%. Na média de três meses, o economista aponta para expansão de saldo de vagas com carteira assinada de 176 mil empregos, ante 214 mil em agosto.
A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, também ressalta a desaceleração na margem no dado do Caged. Ela destaca que se trata ainda de um mercado de trabalho formal aquecido e em recuperação, mas para os próximos meses é esperado o efeito sazonal de fim de ano com contratações temporárias e algum arrefecimento nas admissões.
A partir do início de 2023, ela espera maior desaceleração, mas ainda com saldos positivos na criação de vagas formais. O mercado de trabalho deve ser afetado pelo esgotamento do efeito de retomada dos serviços e também pelos impactos cumulativos da política monetária apertada.
Com informações do Valor Econômico