Em um país onde a carga tributária é significativamente elevada, representando um terço da produção da sociedade, a saga enfrentada por contadores e advogados na busca por atendimento nos órgãos públicos é um reflexo da realidade que se intensificou após a pandemia. O acesso a essas instituições, essenciais para a condução de suas atividades profissionais, tornou-se mais inacessível do que nunca.
Durante anos, contadores e advogados desempenharam papéis cruciais na intermediação entre cidadãos e órgãos públicos, buscando assegurar o cumprimento de obrigações fiscais e legais. No entanto, as transformações ocasionadas pela pandemia trouxeram uma mudança radical nesse cenário, com a interrupção abrupta do atendimento presencial nos órgãos governamentais.
A promessa de uma transição para serviços digitais mais eficientes e acessíveis, que poderiam mitigar os desafios enfrentados pelos profissionais, não se concretizou como esperado. Pelo contrário, a virtualização dos serviços públicos parece ter aumentado a distância entre contadores, advogados e a efetiva resolução de suas demandas.
A falta de retorno à normalidade no atendimento presencial levanta questões fundamentais sobre a proposta de valor dos órgãos públicos. Em um contexto onde a sociedade contribui substancialmente por meio de impostos, espera-se não apenas uma carga tributária justa, mas também serviços de qualidade em contrapartida.
A qualidade dos serviços oferecidos pelos órgãos públicos é um ponto crucial a ser debatido. A lentidão nos processos, a burocracia exacerbada e a dificuldade de acesso tornaram-se obstáculos intransponíveis para contadores e advogados, que, por sua vez, se veem compelidos a navegar por um labirinto virtual em busca de soluções para seus clientes.
A proposta de valor dos órgãos públicos, portanto, deve ser reavaliada à luz das necessidades dos profissionais que dependem de seus serviços. A eficiência, a transparência e a acessibilidade deveriam ser pilares incontestáveis em um sistema que se alimenta substancialmente dos recursos financeiros gerados pela sociedade.
É imperativo que haja um diálogo aberto entre as partes interessadas, promovendo a colaboração entre o setor público e os profissionais da contabilidade e advocacia. Somente através da cooperação e da implementação de soluções práticas será possível superar os desafios atuais e construir um ambiente onde a relação entre órgãos públicos, contadores e advogados seja verdadeiramente eficaz e benéfica para toda a sociedade.
Por: Nazaré Chaves Freire, Sócia Fundadora da Trevo Consultoria Contábil e Administrativa