Em julho de 2023, o Comitê Gestor da Internet divulgou o segundo volume da publicação “Panorama Setorial da Internet”, na qual foram analisadas as perspectivas da população em relação à privacidade e à proteção de dados pessoais.
Esse tipo de estudo é muito importante para as empresas, pois mostra como os usuários brasileiros têm enxergado os riscos da internet, e revela algumas informações relevantes sobre o comportamento do consumidor no ambiente digital.
Várias questões interessantes foram avaliadas durante a pesquisa, mas gostaria de destacar, no momento, uma específica que diz respeito às “restrições de uso”. Isso porque um dos objetivos do estudo consistiu justamente em averiguar se os brasileiros costumam deixar de fazer alguma coisa online por terem receio ou dúvidas acerca da sua segurança digital.
E a pesquisa revelou que, longe de ser exceção, a maioria dos usuários – com mais de 16 anos de idade – já abriu mão de realizar alguma ação na internet, por preocupações relacionadas principalmente aos seus dados pessoais.
Vamos aos números: 77% dos usuários já desinstalaram aplicativos dos seus smartphones, por não confiarem na segurança do fornecedor. Se você entende um pouco sobre os gastos envolvidos no desenvolvimento de softwares, já pode imaginar o prejuízo que isso significa, pois todo o esforço investido durante meses ou até anos para conceber o aplicativo pode simplesmente ir por água abaixo, por uma questão de confiança.
Além disso, 69% dos brasileiros deixaram de visitar algum site ou página na internet, por desconfiarem ou não se sentirem confortáveis acerca da segurança relacionada aos seus dados.
Agora, imagine todo o investimento que é realizado para você manter um website: montar a estratégia de marketing, registrar domínio, definir uma plataforma de modelagem e hospedagem, investimento em design, conteúdo, identidade etc., além do esforço realizado para atrair visitantes – tudo isso para que as pessoas deixem de acessar a sua página por não se sentirem seguras.
Outro indicador importante da pesquisa é que 56% dos usuários já deixaram de utilizar algum serviço na internet e 45% deixaram de comprar algum equipamento eletrônico, por receios ligados à segurança. Como podemos ver, a maioria dos brasileiros têm praticado restrições pessoais ao uso da internet, por preocupações relacionadas a proteção de dados e segurança da informação.
A privacidade vem se tornando uma das maiores preocupações das pessoas nos últimos anos. Por isso mesmo, deveria ser uma política clara nas empresas. Afinal, são inúmeras oportunidades de negócio perdidas, por falta de confiança no ambiente digital.
Os números servem de alerta para os principais interessados no mercado: as empresas. Mesmo aquelas que não atuam diretamente como fornecedores de tecnologia, é certo antever que os custos de oportunidade estão cada vez maiores, quando se fala em presença no ambiente digital.
E principalmente aquelas que atuam no mercado de T.I. – como software houses, fintechs, plataformas de streaming, cloud computing, provedores de internet, aplicativos, serviços online, plataformas de economia compartilhada, crowdfunding, cursos online, etc. – precisam, mais do que nunca, investir na chamada “cibersegurança”.
Em toda e qualquer empresa, da pequena à grande, é primordial cuidar da sua infraestrutura de segurança da informação, o que vai desde o jurídico, passando pelos processos organizacionais, até as medidas técnicas e ferramentas de proteção de dados. Segurança é uma rede, e não um setor ou uma solução.
Lembre-se: o mercado funciona à base de confiança, e a base da confiança, no mercado cada vez mais digitalizado, está na segurança da informação.
É questão de sobrevivência.
Por: Gabriel B. Fortes, Advogado na área de proteção de dados e segurança digital do escritório Fortes Nasar Advogados. Pós-Graduado em Direito Digital e Compliance. MBA em Liderança Estratégica e Gestão Financeira. Mestre em Direito Constitucional. CPC-PD ©️.