Como criar valor às demonstrações contábeis? Faça a análise econômica!

Como criar valor às demonstrações contábeis? Faça a análise econômica!

A contabilidade é uma ciência da informação cuja missão é fornecer informações para tomada de decisão, prestação de contas e responsabilização. Para auxiliar a tomada de decisão a contabilidade precisa fornecer informações sobre aspectos físicos, financeiros e econômicos do patrimônio.

Por razões históricas, nossa sociedade é inculta em finanças. Uma das evidências desse subdesenvolvimento é a dominância da utilização da contabilidade como sistema de patrimonial e fiscal em detrimento do uso informacional e gerencial. Outra evidência desse atraso é a valorização exagerada na imprensa especializada de indicadores de liquidez, em especial o EBITDA, isso porque ele é um indicador ruim, ele quase não tem significado verdadeiro para o investidor, ele expressa uma geração bruta de caixa (antes dos tributos), é uma medida em reais, não comparável com outro investimento e não indica se há criação de valor. O EBITDA também desconsidera a demanda de CAPEX e OPEX. Se a preocupação relevante fosse a geração de caixa, o FCL (fluxo de caixa livre) seria um indicador muito melhor.

A análise econômica das demonstrações contábeis gera informação sobre histórico do desempenho operacional (ROI), dos custos dos passivos onerosos (Ki) e do rendimento obtido pelos credores de renda variável (RSPL), indicadores comparáveis com outras oportunidades de investimento no mercado financeiro. Estes indicadores são muito superiores aos populares indicadores de liquidez em termos de poder de informação.

A comparação entre o uso de índices de liquidez e indicadores de desempenho econômico fica mais bem explicada por meio da seguinte analogia:

O coração das empresas é o seu negócio, seus ativos operacionais. Uma empresa com coração saudável consegue fazer esforço, subir velozmente escadas e rampas, correr longas distâncias, tudo sem ter uma crise. Por outro lado, empresas com problemas nos seus ativos são incapazes de fazer esforços, não conseguem enfrentar situações de estres e muitas falecem dessa insuficiência.

Os índices de liquidez, tais como o EBITDA, seria como medir a pressão sanguínea da empresa, sem ouvir seu coração.

Para saber se o coração de uma empresa é saudável, é preciso medir sua frequência cardíaca, ou seja, sua capacidade de gerar rendimento. Essa medida precisa ser expresso em taxa (%)  líquida de tributos sobre o lucro, isso para seja comparável e mais verdadeira ao investidor. Essa métrica deve poder ser aplicada em unidade ou subunidade de negócio. Também deve se relacionada às metas e sistemas de controle e avaliação dos gestores. O indicador com essas características é o ROI (return on investment).

O valor encontrado de ROI não é isoladamente capaz de estimar a saúde financeira do coração empresarial. Essa saúde é uma medida relativa, para que o coração seja suficientemente saudável, seu rendimento precisa superar o esforço de capital exigido pelos credores de renda fixa (Ki) e de renda variável (RSPL). Quando o ROI supera o Ki, o RSPL também supera o Ki, permitindo que RSPL seja igual ou supere o retorno desejado pelos acionistas (Ke). Isso é o que se pode chamar de hierarquia dos retornos esperados, uma ordem de rendimentos que indica uma situação de saúde financeira ótima. Quanto mais fora de ordem forem encontradas essas taxas, mais debilitada será a saúde financeira dessa entidade.

É provável que a ausência dos indicadores econômicos na imprensa se deva a alguns fatores: (1) dificuldade cognitiva dos usuários em entender o significado dos indicadores econômicos; (2) a liquidez é a maior preocupação dos investidores de renda fixa, a solvência da entidade investida; (3) dificuldade de cálculo dos indicadores econômicos no tratamento de variações de valores nas demonstrações contábeis; (4) apresentação de indicadores isolados de outros indicadores de referência; (5) amostragem de dados muito estreita, o que limita o poder preditivo dos indicadores; (6) custo de produção da informação independente.

Além da quase ausência dos indicadores econômicos, quando presentes são mal apresentados. A principal falha é expor indicador isolado de outros indicadores referência, o que impede de se avaliar o alinhamento dos indicadores da entidade com a hierarquia dos rendimentos desejados. Uma segunda falha é apresentar dados de apenas um ou de poucos períodos, isso é, não se mostra uma série histórica para que o investidor avalie as variações, as frequências e as tendências dos números no tempo, ou seja, diminui o poder preditivo das informações.

OBJETO DE ANÁLISE: RISCO FINANCEIRO

Risco financeiro é a probabilidade de um investimento gerar retornos inferiores ao desejado ou, na pior das hipóteses, proporcionar perdas. O monitoramento dos riscos financeiros de uma entidade se faz pela análise da liquidez e pela análise de taxas, também chamados de risco de prazos e risco de taxas.

O risco de liquidez ou de prazos é estimado pelas métricas do tipo: índices de liquidez, capital circulante líquido (CCL), EBITDA, índice de endividamento, cobertura operacional de juros, dependência financeira, entre outros. Elas mostram a folga ou o aperto financeiro pela confrontação entre vencimentos de ativos e de passivos no tempo, ou também pela comparação da capacidade de gerar caixa frente e os compromissos.

O risco de taxas é mais difícil de ser compreendido. Essa dificuldade seria uma das razões de sua pouca utilização. Para explicar este tipo de risco, precisamos voltar ao conceito de que toda entidade é uma interveniente de recursos, isto é, a entidade capta recursos no passivo a um custo e aplica nos ativos para obter um retorno. Risco de taxas surge das flutuações destas taxas ativas e passivas. Em determinado momento as taxas dos ativos podem superar os custos de captação e em outros essa posição pode se inverter. Quando se fala de risco de taxa, é o risco de acontecer essa posição invertida, o retorno do investimento (ativos) fique inferior ao custo de captação (passivos onerosos).

Crises de liquidez podem ter algumas origens, podem surgir de atos de gestão do capital de giro, podem surgir de desarranjo de taxas entre ativos e passivos, ou podem surgir de ambas as causas misturadas. Crises de taxas surgem com mais frequência como produto do ambiente externo à entidade, tais como aumento da taxa básica de juros, recessão, acirramento da concorrência, falha de posicionamento estratégico com produtos e serviços obsoletos ou decadentes, etc. Crises de liquidez causadas por erros de gestão do capital de giro são mais passageiras e administráveis. Estruturas de taxas desfavoráveis são mais persistentes e difíceis de superar, e ao longo do tempo acabam por provocar crise de liquidez que também é mais permanente. Saber diferenciar as causas de crise de liquidez é uma importante ferramenta para decisão de investimento.  

O ROI é um indicador excelente para gestão e planejamento dos negócios, pode ser decomposto em margem e giro. Pode ser aplicado a unidades de negócio, filiais, responsáveis por atividades e processos, etc.

Oferecer análise econômica das demonstrações contábeis é um mecanismo de adicionar alto valor à contabilidade.

Para os profissionais que desejarem se aprimorar na Análise Econômica das Demonstrações Contábeis recomendo leitura da dos seguintes textos de minha autoria:

Análise da PETROBRAS:

https://www.linkedin.com/posts/s%C3%A9rgio-torggler-86202a21_activity-7112394999706611715-7pAi?utm_source=share&utm_medium=member_desktop

Análise da RUMO:

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Análise da COSAN:

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Análise da ELETROBRAS:

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Análise da Eletrobras – atualização:

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Análise da VLI:

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Texto sobre juros e spread financeiro corporativo:

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Fonte: https://www.contabeis.com.br

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