Outro dia meu filho me confidenciou que muitos de seus amigos, estavam apreensivos com a perspectiva de terminarem o curso de Ciências Contábeis e perderem seus estágios.
Fiquei surpresa ao ver, que ao invés de estarem felizes com o término de seus cursos, os jovens estavam amedrontados. Perguntei-me o porquê de muitas empresas, só ficarem com esses jovens durante o período de estágio.
Como contabilista, sei bem a diferença financeira entre contratar um estagiário e um profissional, mas será que só os custos devem ser avaliados na relação entre empresa e estagiário?
Por que não falarmos também sobre o vínculo profissional e até afetivo que o jovem estudante criou com a empresa?
Por que não falar também, dos sonhos desses jovens estudantes em serem profissionais na empresa em que estagiaram?
Por que simplesmente não ficar com esse jovem, por meio de um acordo entre empresa e estudante, onde se discutam valores e regras que sejam bons para ambos?
Com a experiência que adquiri ao longo de treze anos lecionando no ensino superior, me deparei com situações (posso até dizer que a maioria das situações), em que estudantes saíram das salas de aula, sem nenhuma perspectiva de trabalharem em suas áreas. Muitos pela falta de oportunidade, ao serem dispensados de seus estágios ao final do curso.
Ainda hoje, tenho contato com alunos que se formaram há mais de cinco anos, e até agora não atuam em suas áreas de formação e não estão nem próximos disso.
O curioso é que ao mesmo tempo em que vemos jovens assustados com o futuro profissional, também vemos profissionais experientes (mais velhos), também assustados com esse mesmo futuro.
Aos mais jovens não é dada a oportunidade de adquirir experiências, aos mais velhos não é dada a oportunidade de trabalhar e transferir seus conhecimentos.
O que me parece é que existe uma “mágica faixa etária” onde surgem do nada, jovens com formação e experiências em suas áreas, sem que ninguém tenha lhes dados a chance de aprender com profissionais experientes. E os que têm a chance de estar nessa “magica faixa etária” são os novos contratados do mercado.
Também tenho a impressão de que a maioria das empresas, não querem serem as primeiras a dar o aprendizado e também, não querem serem as primeiras a darem as chances para que os mais velhos fiquem e repassem o que sabem.
O resultado está aí: milhares de jovens saídos das faculdades e de profissionais com mais idade, colocados no mesmo cesto: o cesto do desemprego etário.
Acredito piamente que jovens e profissionais mais velhos, tenham que frequentar o mesmo ambiente empresarial, para que daí nasçam novos profissionais, realmente capazes de levarem a empresa a diante.
Essa onda de modernizar a empresa contratando apenas “jovens experientes”, que na verdade, são inexperientes, pois não tiveram a vivência com profissionais verdadeiramente conhecedores, pode levar a empresa a perda de produtividade.
Por fim, considero um desperdício, deixar fora do mercado, a bela parceria entre jovens recém-formados e profissionais que passaram a vida acumulando sabedoria. Para mim, a parceria entre a força da juventude e a maturidade dos profissionais mais velhos, além de ser um trunfo para as empresas, é uma forma de equilibrar a balança do desemprego etário.