Mais de um ano após a divulgação do escândalo contábil que revelou um rombo financeiro na Americanas de mais de R$ 25 bilhões e colocou a empresa na mira dos auditores, conselhos e do governo, agora a Polícia Federal (PF) realiza a Operação Disclosure de busca e apreensão de ex-diretores da empresa e de prisão do ex-CEO.
Cerca de 80 policiais federais cumprem dois mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão nas residências dos ex-diretores das Americanas localizadas no Rio de Janeiro. Além disso, a Justiça Federal determinou o sequestro de bens e valores destes ex-diretores que somam mais de R$ 500 milhões.
Realizada nesta quinta-feira (27), a operação cumpriu o mandado de prisão preventiva do ex-CEO Miguel Gutierrez, após conclusão do inquérito interno – elaborado por um comitê independente contratado pela Americanas – que aponta diretamente para o antigo CEO como mentor do esquema que levou a varejista de 95 anos à recuperação judicial e tirou o emprego de 5 mil funcionários.
Uma investigação do Congresso trouxe a público documentos — revelados pela empresa — que alegam que Gutierrez e membros de sua diretoria executiva falsificaram contratos publicitários e ocultaram empréstimos tomados por meio de uma estrutura chamada de risco sacado a fim de esconder dívidas da empresa e aumentar os lucros.
Estudos produzidos pela própria companhia apontaram que as inconsistências eram, na verdade, fraudes contábeis cometidas por ex-funcionários da rede varejista.
Durante a investigação do Congresso, que durou quatro meses, o atual presidente da Americanas, Leonardo Coelho, apresentou conclusões que, segundo ele, vieram do comitê interno, sugerindo que Gutierrez e sua equipe criaram contratos de publicidade falsa como forma de reduzir passivos com fornecedores – que foram apresentados aos auditores – ao mesmo tempo em que não contabilizavam adequadamente dívidas com bancos provenientes de transações de risco sacado.
Os investigadores da Comissão de Valores Mobiliários, da Polícia Federal, do Ministério Público e do comitê interno independente da Americanas ainda estão tentando desvendar o funcionamento interno do suposto esquema.
Em e-mail enviado ao jornal Bloomberg, os advogados de Gutierrez “negaram veementemente” que ele tenha participado de quaisquer atividades ilícitas enquanto trabalhava na Americanas e disseram que os atuais executivos estão usando documentos fora de contexto na tentativa de criar uma narrativa falsa para proteger o conselho de administração e os maiores acionistas.
Como tudo começou
Em meados de 2022 que o conselho da Americanas decidiu substituir Gutierrez pelo conhecido executivo Sergio Rial. Após apenas 10 dias no cargo, Rial anunciou as “inconsistências contábeis” e pediu demissão. Na época, os responsáveis pela diretoria emitiram um comunicado dizendo que “nunca teve qualquer conhecimento e nunca teria tolerado quaisquer manobras ou truques contábeis na empresa. A nossa atuação ao longo de décadas sempre foi de rigor ético e legal.”
O choque foi instantâneo e generalizado. As ações da Americanas caíram quase 80% em um único dia e os títulos de dívida externa caíram para menos de US$ 0,20. Os credores correram para tentar receber suas dívidas, e o setor de dívida corporativa do Brasil e outros varejistas foram punidos, já que o incidente azedou o sentimento de um mercado que já sofria com juros de dois dígitos.
Saiba mais:
Caso Americanas: especialistas avaliam quais falhas contábeis podem ter levado ao rombo financeiro
Com informações Folha de S Paulo e O Globo